sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vazio

I
Um labirinto conturbado, um mundo aos pedaços, um caos interminável propícios à lágrimas. Às vezes, de tantas certezas, começo a criar duvidas. O encanto acaba e a dor é inevitável, o colo daquele ‘’eterno’’ quebrou, e se fez em mil pedaços jogados ao vento. Tudo que resta são memórias, memórias de quando tudo já foi bom. Um espaço órfão a procura de afeto, de cuidado e de proteção. Um espaço machucado, mutilado e sozinho. Um espaço completamente sozinho.

II
Tempestade incessante, pingos incansáveis de angústia e desolamento. Levemente inconstante,e às vezes, num impulso, tentando sair para lugar algum. Vendo o mundo de um ângulo inexistente,imaginando coisas inimagináveis à procura de lucidez. Preza no passado,temendo o presente e ansiosa pelo futuro. Preza em mundos diferentes,oscilando entre a inocência e o pecado. Um pecado que em dias tempestuosos,proporciona um certo refúgio. Oscilando entre o tudo e o nada,e o ‘’nada’’,se encontra reconfortante.

Notas Do Subsolo

"Tenho, por exemplo, um terrível amor-próprio. Sou desconfiado e me ofendo com facilidade, como um corcunda ou um anão, mas,realmente, tive momentos tais que, se me acontecesse receber um bofetão, talvez até me alegrasse com o fato. Falo sério: com certeza, eu saberia encontrar também nisso uma espécie de prazer - naturalmente o prazer do desespero, mas é justamente no desespero que ocorrem os prazeres mais ardentes, sobretudo quando já se tem uma consciência muito forte do inevitável da própria condição.

E, no caso do bofetão... sim, fica-se comprimido pela consciência do mingau a que nos reduziram. E o principal, por mais que se rumine o caso, está em que eu sou o primeiro culpado de tudo e, o que é mais
ofensivo, culpado sem culpa e, por assim dizer, segundo as leis da  natureza. Pois, em primeiro lugar, tenho culpa de ser mais inteligente  que todos à minha volta. (Considerei-me, continuamente, mais inteligente
que todos à minha volta, e às vezes - acreditam? - tinha até vergonha disso. Pelo menos, a vida toda olhei de certo modo para o lado e nunca pude fitar as pessoas nos olhos.)

Finalmente, sou culpado porque, mesmo que houvesse em mim generosidade, eu teria com isso apenas mais sofrimento devido à consciência de toda a sua inutilidade. Certamente eu não saberia fazer nada com a minha generosidade: nem perdoar, pois o ofensor talvez me tivesse batido segundo as leis da natureza, e não se pode perdoar as leis da natureza nem esquecer, pois, ainda que se trate de leis da natureza, sempre é ofensivo.

Finalmente,mesmo que eu renunciasse a ser generoso e,ao contrário,quisesse vingar-me do ofensor,de nada poderia vingar-me de ninguém,pois,certamente,não ousaria a fazer algo,mesmo  que pudesse''.

Dostoiévski